quarta-feira, 30 de março de 2011
domingo, 27 de março de 2011
Perempção cogitativa
Talvez eu morra
Mas já basta
Ao final não conta
Afinal, já basta
É claro que conta
Ao final não finda
O final ainda
É claro que vivo
Afinal de contas
Mas agora é dia
E alguém duvida
Eu quero morrer
E sei que consigo
Daí essa hipótese
Mas se não morro
Afinal é óbvio
Também não conta
Ao final já basta
A vida é que mata
Talvez fique claro
Afinal é dia
A pessoa à noite
Quando finda o dia
Ela mesma acaba
O corpo ainda
E se a forma morre
Ou arrasta a casca
Talvez já baste
quarta-feira, 23 de março de 2011
Corda Tencionada - Tensão entre aspas - Pulsar de Couraças
(Assim Falava Zaratustra, Nietzsche)
LIMITAÇÕES E MORTE DOS FORMATOS
Precisam existir ilusões. Elas precisam ser derrubadas. A existência de limites implica que o que eles limitam transite através deles. Transbordamento. Através dessas aparências que nos restam da organização. Estamos ensaiando, o Núcleo de Espetacularidades, a pré-estréia da peça processual Las Morales... no Fringe curitibano. Existe alguma articulação misteriosa de contingências (as quais dou muita importância, as articuçações) que me faz... visualizar a nossa atividade cotidiana... encontros, ensaios, fofocas, desbundes e derrocadas... como resistência, ou melhor, ressonância, ou melhor, melhor ainda, reação. É assim que tenho visto, ou melhor, melhor ainda, mais que melhor, melhor assumirmos o poder sensualizante implícito nas nossas atitudes de nos encontrarmos. O poder.
O poder de um acontecimento, em instauração silenciosa, inevitavelmente errante, funambulesco. Existe, e precisa existir, a ilusão de que estão nos assistindo, e de que fazemos para alguém. É nisso que consistem os ensaios, e é isso o que eles deixam de ser, felizmente, em muitas situações. Nos nossos encontros vamos tramando, tramando, tramando, até que um dia ficam vendo tudo o que tramamos, dando certo e dando errado. O dia da apresentação é plena e decididamente diferente de cada dia de ensaio, que é diferente entre si. O que fazemos? Mostramos que estamos de mãos atadas, ou desatamos as atas das nossas reuniões, ou mentimos? Mentimos sempre. Por que?
A frontalidade, disposição espacial recorrente em todos os nossos trabalhos, é um limite que não superamos. Não abolimos a frontalidade, porque achamos que precisamos dela. Ao termos esta impressão, escolhemos. A frontalidade. Dizemos que escolhemos. Eis aí um limite através do qual o acontecimento/encontro propõe (estabelecendo ou não) movimentação de informação, produção de conhecimento, posicionamentos políticos. Eis aí um exemplo de um limite por onde se dão alguns desses exemplos de fluxo, de comunicação, ou vivência de linguagem. Não sei se é o melhor nem se vem ao caso sabê-lo. Como estou me referindo agora a uma noção muito específica de experiência de encontro, que é a maneira como estou interpretando a experiência teatral, tenho a impressão de que o melhor possa passar pela hipótese da invenção. Não a invenção originalesca, que derruba limites inexistentes (isto é, a transgressão via formulários), mas a invenção dos limites e dos formatos por onde transborda a subjetividade. Ou então posso dizer que prefiro a frontalidade para que eu possa assistir de lado.

OS CORPOS EM FRONTALIDADE
Palco e platéia. Pessoas se olhando. Luz e Penumbra ou Escuridão. Não gosto de assitir peças, não necessariamente por rejeição. Mas porque me incomodam os grupos grandes. Mesmo as platéias "fracas", isto é, as cadeiras vazias. Os grupos grandes me provocam ameaça e preocupação. Quando estou na platéia fico nervoso, tenso mesmo. Fico querendo assitir à platéia quando sou platéia. E aos atores quando não sou platéia. Ou seja, sempre sou platéia. Se eu sou platéia sempre, por que eu tenho que tomar decisões à respeito da apresentação, além do motivo óbvio de eu ser o diretor? Não sei, e acho que quando eu souber terei encerrado minha trajetória de diretor.
Por isso também sou autor. E quando penso nos corpos dos atores em relação frontal com a platéia, acho que produzo um pensmento de autor. Não o dramaturgo, e também não o diretor de cena. O que diferencia? As diferenças diferenciam, não é óbvio? Ai, como me divirto. Queria agradecer aos componentes caóticos que nos colocam em relação e em perigo à cada ensaio. Afinal, a frontalidade não se trata da invenção, enquanto a invenção não tratar da frontalidade. Tratar é conversar, manusear, cuidar (bem ou mal), expressar, interpretar, realizar ou modificar por meio de um agente. Mas, não é disso que eu estou falando. Do que é?
Os corpos são postos em relação frontal. A platéia é posta em relação frontal. O espaço escolhido é caracterizado pela relação frontal. À partir daí, duas perguntas. Por que as pessoas param para ver as outras? Também não se responde, mas acredito que seja uma condição da experiência de afetação. A invenção não se trata da frontalidade enquanto a invenção não se tratar da ilusão. Perto do encantamento, o hipnólogo e o hipnotizador colocam-se também em condição espetacular. A ilusão de inventar a roda, combatida pelos professores, devia continuar sendo posta em discussão. Ou melhor, ela sempre é a discussão, ao menos para mim. Afinal, enchemos de adereços sensoriais combinados previamente, a necessidade de se encantar pela presença do outro. E também enchemos de adereços dramatúgicos, de complexidade atordoante, ou de simplicidade perturbadora, ou de redundância hipnótica, a mais cruel manifestação de afeto que se dá no pacto do espetáculo. Somos extremamente perigosos e poderosos fazendo isso. E, ao mesmo tempo, somos marginais, ainda.

A MUSA
A musa é o arquétipo por onde passam os afetos mais significativos na minha, digamos, condição mais recente. Mas, a minha condição mais recente, digamos, a primeira dobra que emergiu nesta nova etapa da minha vida, é uma maneira com a qual tenho pensado a minha vida, ou melhor ainda, a vida sendo pensada numa abordagem pessoal de tempo onde o reconhecimento ainda está sendo produzido. Quer dizer, a Musa não é alguém por quem estou apaixonado, mas é uma paixão que se repete e se recusa a coadunar com a realidade. Afinal, as musas só inspiraram as disposições criativas, que não são necessariamente escolhas do indivíduo, mas configurações de manifestação afetiva onde a criatividade foi notada. A musa, tornar alguém musa, tornar algo como objeto de inspiração, é quase tão parecido com o que o museu faz com as pinturas, esculturas, e as galerias com instalações, performances, e as catedrais com padres, freiras, fiéis. Coletivo de musa é museu.
Claro que a Musa Inspiradora não tem mais o espaço e o tempo específico que pareceriam ter. Pensando que produção de inspiração seja produção de espaço e tempo. Uma situação de inventividade, um acontecimento. Desmoronando pelos limites de si mesmo. A musa é uma afetação da faceta anímica da autoria. A musa é ao mesmo tempo a mãe e a morte do amor impossível. A musa foi atingida por um lustre na cabeça (sabotagem de primeira executada pelo apaixonado/patético/patológico "fantasma da ópera" que é um assunto à parte, fundamental, ainda não citado). Claro, esta é a nossa abordagem deste arquétipo. Do Núcleo de Espetacularidades. Em Las Morales Dobles de Wilson.
às 21:30
Local: TEUNI
R. XV de Novembro, 1.299, Centro, Curitiba
Ingressos à $8 e $4
sexta-feira, 18 de março de 2011
Sonhos de Edward
Não sei no que mais pode se transformar. Em post de blog, que tal? Aqui vai o primeiro poema desta seleção, que foi utilizado como abertura dos primeiros resultados do Projeto Sonholabirintorgia. Agora, são 50 poemas. Mas, não sei não, um dia me preocupo melhor com eles. Agora, há algumas semanas da pré-estréia de Las Morales Dobles de Wilson, estou imerso na produção de significados com o Núcleo de Espetacularidades, e trata-se outro universo (que povoará este blog nos próximos posts)

1.
Danço para me libertar
então, eu não sou livre
uma planta livre de um aquário
será que eu sou livre quando eu falo
quando eu vejo uma luz estourando
numa das paredes da noite
um homem precisa ser charmosamente brutal para sê-lo
portando saias longas entrega um punhal entre os dentes
ao mínimo descuido, as garras rasgam a própria pele
embaixo da cama e encima dela
vamos, cavalheiro, bom cavalheiro, coloque-se mais
à frente de qual tempo
verbal ou verborrágico, contamino-me
sulcando as rochosas vestes do meu aspecto terreno
enquanto isso, evacuo o amor planetário
terça-feira, 8 de março de 2011
Fala
o gosto em fileira
a caça aglutina
no tronco cutâneo
falo do cabelo
a pele envolvida
agora encaracola
medo de visita
falo da vista
um olho e uma pista
nunca estive calado
nem à esse respeito
falo de memória
a queda do quintal
e cada fala alcançada
falo sem curativo
terça-feira, 1 de março de 2011
Gregos e Romanos ou O Primeiro Elo Perdido Encontrado entre o Verme e o Artrópodo
