quarta-feira, 10 de outubro de 2012
sem sementes
a ira da margarida árida engana o girassol obtuso
em torno da mira em que a pomba gira a gaia
o engodo do sol engolido pelo meio
se o céu do bolero que leva sem sementes
lava com urina o solo que velo acima do zelo zen
também suspiro e profiro inclinações horizontalmente
mas o punhado de terra durante o canto causa sêde
o broto aquecido da nova ancestral emerge
e aperta a unha no dedo que me acorda
terça-feira, 9 de outubro de 2012
a tríade tétrica satírica
três gotas menstruais
caíram sobre meus versos
os meses do bairro silenciaram
três gotas plenilunares
o telefonema entre seres noturnos
calando... indicando... orientando...
diante e dentre três saídas idênticas
encontrei uma senda magnética
uma tríade tétrica e satírica
e desde quando isso me ocorreu
toscanejo em versos, mês e pó
zero em vozes da noite grão
três latidos gotejantes
sobre o breu na brisa latente
calavam... indicavam... orientavam...
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Aquela Cidade
Aquela cidade onde ainda é escuro e venta é onde abro os olhos.
Tomo cuidado com a pele, as luzes e os despertadores.
Não quero que descubram aonde pode chegar.
Quando chego até ela pela madrugada
só me lembro dela quando venta.
E quando o vento fica em silêncio eu me levanto bem lentamente
fico parado mas não sai nada sobre.
Aquela cidade é o berço sobre o qual me debruço,
e um abraço ácido sobre o qual me debato
o excesso de luz sobre ela me confunde
ao abordá-la perco um pedaço.
No árido onde ninguém sabe que venta
em dado momento suspendo minhas atividades.
Aquela cidade da qual me ausentei
sob a plêiade das luzes de sódio
atravessa pelas veias abertas
em movimento é horrenda
aquela cidade está certa
ornamenta as origens doloridas
a vala onde resvalam raiz e sêmen
parafina paradigma de um sangue.
Aquela cidade presenteada com estradas
onde surgem novos shoppings presenteados
com estradas de terra e veias vinte e quatro horas
dentro de órgãos pulsando vinte e quatro horas.
É lá onde estou em movimento
as duas mãos dos membros ocupadas.
Aquela cidade fertilizada com pesos
e pontos dos quais eu não me esqueço
e não evoca melodiosas glosas nem verso nem vácuo
no vão entre até então espero que haja mais espaço
naquela cidade onde morri e retomei o compasso
com gestos rastejantes de certo preciosismo
a vida genuinamente impossível e mística
dançada e espiralada dos quadris.
Aquela cidade sem abajur acabou para mim
coloco as duas mãos no rosto que se transforma
quando venta no escuro o rosto se transforma
em pedaços de pássaro e folhas secas de carne
amalgamadas em persona de mulher tropical
disfarce do qual aproveito cada silhueta
deitado no peito da ânima daquela cidade.
eletrocutado
um choque percorre meu eixo e explode em facetas libertárias excretoras de baba
em gotas da escuridão lúbrica tidas como objeto de desejo de uma mata fechada
cada pedra nomeada com designação de parentescos apara as arestas e abraça
ecoa de cada memória escrita um alumbramento expressivo da oralidade
pela suspeita extasiada da ameaça e da presença que tem corpo
o corpo de um instrumento musical intencionado de madeira
uma história que conta, que canta, que dança e silencia
em sua quimérica e efêmera vontade de ruptura
o tigre dos meus ombros desliza pelos dedos
envelhecendo em estado de magia
Curitiba com Filtro
as gerações com unhas postiças
cravadas em solos férteis e excludentes
a história do extermínio em porções maciças
de lembranças desproporcionadas
posicionam-se no frigir de elásticos
um temporal de pupilas imanentes
fertiliza a fisionomia circunstancial
circunscrita na pangeia incrementada
escuta o latido latente destroçando o tímpano
que engorda e sapateia na febre de um trópico
brinda ao efêmero que já não conceitua
e escapa de mais um atropelamento
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