Estou
guardando um fio de cabelo dentro do chapéu que nunca me serviu. Dentre tantas
coisas abandonadas, esse fio foi encontrado por mim, bem debaixo da minha
cadeira. É longo demais para
ser ter nascido na minha cabeça, e preto e espesso o suficiente para soar
estranho a qualquer morador da casa que, por ventura, possa ter, digamos,
passado por debaixo da minha cadeira em algum momento. Durou pouco minha
primeira impressão,
a de que esse fio de cabelo fosse o fio da vida, rompido em estaturas
indeterminadas, fio de tecidos combinados no estômago do engolidor de figurinos seria
algo mais específico, e não condicionado a
esse encontro tão
improvável quanto encontrar
qualquer outra coisa debaixo de coisas abandonadas. Não porque seria triste
demais constatar que o fio da vida possa ser apenas um fio de cabelo. É que esse fio de
cabelo que encontrei é
uma boa companhia.
(Um fio "Do mais excruciante Dezembro", um livro fictício, 2014)
Nenhum comentário:
Postar um comentário