Ensaio |
O novo trabalho se chama Ótima Ideia. Fiz a encenação desses textos que venho escrevendo. É um monólogo e eu já estou aqui. Nesse lugar o nível de risco é tão elevado quanto o nível de preocupações, o que prescinde da criação das unidades de medida específicas ao porte fantasmático das ilusões, um deslumbre obstinado e infantil pela respiração concreta da plateia. O desperdício na compra de almas também exigiria um estudo de caso mais específico sobre a magia na arte das ações que conduzem em teatro. Diversos interesses levaram a isso, interesses não, mas várias coisas que se repetem, que se propagam nas temáticas faustas e mefistas cravadas vivas na maquinaria teatral, da qual o ator é um dos funcionamentos, e um dos desfuncionamentos, com o punho levantado na pronúncia de algumas palavras, dentre aquelas que me influenciam a cometer algumas escolhas.
Uma das escolhas é o trabalho com o humor, inspirada nos números de Andy Kauffman nos anos 70, e se refere (mais do que trabalhos mais recentes na mesma linha) a umas motivações da criança velhinha palestrante. Ela às vezes vive em algumas palavras e revive desde as minhas primeiras cenas de teor autopsicográfico, nos duplos atados nas pernas da cena, gesticulando como braços pendurados. A TV de ídolos sonoros, a dança de cartas lacradas do poder, e o encantamento pelo qual se acaba tomando responsabilidade através da construção de contrastes.
Personalidades de massa, personalidades de massinha. Imitação de personalidades, efeitos psicotrópicos do tempo sobre a repetição, sufocamento de ambições acadêmicas. 2004, 2005, 2012, 2015, anos noventa, anos oitenta, anos sessenta, anos vinte. Movimentos de séculos numa resposta (muitas vezes frágil como papel desamassado, que na forma de um espelho velho e quebrado que quer cravar o olhar-ameaça e presença de autoridade do lado de dentro e do lado de fora da ferida) ao tempo morado em Bauru, ao tempo morado em Curitiba, às mortes dos nascimentos no período anterior a esse, e aos desmascaramentos gloriosos das primeiras insatisfações nos contrastes encantadores dos reflexos do que se chama consumo.
Como esse risco reage ao outro risco, que por algumas coincidências pode o englobar, que é participar do Festival de Teatro de Curitiba, em meio aos quase quatrocentos espetáculos que integram o Fringe? Com a imprevisibilidade decorrente da impermanência iconizando e ironizando a mim, a você, e a todos, e a tudo, como personagens ou porcentagens de uma coreografia idiossincrática com baixa saturação de coragem (cores nos olhos). Até aqui o rebolado expressionista de si mesmo levantou a poeira dos gestos de memória livre. E grudou na pálpebra de algumas pessoas que choraram copiosamente. Fique atento e à vontade diante da história ambígua e cenográfica da venda e da compra da minha alma.
A peça volta à Curitiba para única apresentação no dia 21 de Agosto.
Límerson Morales
poeta-xamã/encenador teatral
Abril, 2015
A peça volta à Curitiba para única apresentação no dia 21 de Agosto.
Límerson Morales
poeta-xamã/encenador teatral
Abril, 2015
Ótima Ideia
Texto e direção - Límerson Morales
Direção de produção - Felipe Chaves
Apresentação única no dia 21 de Agosto
Teatro A Fábrika
Rua Fernando Amaro 154
Alto da XV
Curitiba, PR
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