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Desenho de Feliciano Dessena publicado no livro Antes O Mundo Não Existia de Luiz Lana |
As
casas tomavam sol naqueles dias frios. Transbordavam animalidades através da
pele por onde entra a luz. Um gato marrom parou na frente do portão de casa
como um eco. Eu me perguntei “e onde está o meu gato imaginário?”. Já deu cria,
e eu cuidei dos filhotes durante o período necessário, mas onde estava? Chamei
de volta o bem-te-vi que tinha me chamado. Esses pensamentos pardais roubam
ração e deixam carrapatos no quintal mental. Essa casa não está mais encima do
muro, afirmei com firmeza materna. Estava frio demais para isso. Onde estava o
meu gato imaginário, eu me perguntava. Seu nome era Avessa, mas não era pelo
nome que eu chamava.
Ocorria
que mesmo com as crias mais crescidas, as que já acumularam um pouco de
criação, precisavam sempre ser chamadas pelos os olhos. Pelo fundo dessas
frestas luminosas e invasivas cheias de pele que eu chamava. Avessa surgiu de
uma das portas, de onde vinha um barulho de chuveiro ligado, e parou como um
eco me olhando. Então eu chamei de novo, olhando para a rua por dentro do
cristalino costurado nos nervos. Ah, pequeno amigo, fêmea avessa, mãe amiga
paterna, ausente indiferente, os melhores sustos que eu temo foi você quem me
deu. E eu sempre te chamei com os olhos, por causa do nome Avessa. E eu sempre
te alimentei com tudo o que escuto, além de matar a tua sede com sol encima da
casa.
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